O primeiro grande dado de emprego após o shutdown do governo trouxe logo um choque ao mercado.

O relatório ADP de novembro mostra que o setor privado nos EUA não só não criou, como eliminou postos de trabalho — uma redução líquida de 32.000 empregos. No mês passado ainda havia crescimento, por isso esta reviravolta foi realmente repentina.

Mais preocupante ainda é o problema estrutural: as pequenas empresas estão a sangrar em grande. Empresas com menos de 50 funcionários cortaram, em novembro, logo 120.000 postos de trabalho. E as grandes empresas, com mais de 500 trabalhadores? Essas, pelo contrário, criaram mais 90.000 empregos. É um contraste total — as pequenas empresas já não aguentam.

Por setores, a indústria transformadora e a tecnologia ainda se mantêm estáveis, mas a contratação nos serviços caiu a pique. Restaurantes, hotéis e retalho — os setores mais dependentes do consumo — foram os que mais despediram.

**Expectativas de descida de juros ao máximo**

Os dados de emprego estão péssimos, por isso a Reserva Federal tem de rever imediatamente a sua política monetária. A inflação praticamente não subiu este ano e agora o emprego também está em queda — parece inevitável que os cortes de juros iniciados em setembro tenham de continuar.

Desde então, a Fed já baixou as taxas duas vezes. Com estes dados fracos, o mercado está praticamente certo de que na reunião do FOMC de 10 de dezembro haverá novo corte.

Os preços do mercado de futuros apontam para uma probabilidade de quase 90% de corte de 0,25%. O mercado laboral está aflito, a Fed não tem alternativa senão intervir.

**Ativos de risco em euforia**

Com as expectativas de descida de juros a aumentarem, o dinheiro especulativo sentiu logo a oportunidade.

As bolsas dispararam no próprio dia — o Dow Jones subiu mais de 480 pontos, o S&P 500 ganhou 0,45%. O ouro foi ainda mais impressionante, ultrapassando diretamente os 4.200 dólares, com uma valorização de 1,2%, apesar de algum recuo posterior.

O mercado cripto também não ficou parado. O Bitcoin, após a divulgação do relatório de emprego, atingiu um máximo de 93.555 dólares, uma subida de quase 3% nas últimas 24 horas. Com expectativas de política monetária mais expansionista, o capital começa a afluir aos ativos de risco — uma lógica que continua a ser simples e direta.

Com dados de emprego tão maus, para a economia real isto é obviamente negativo. Mas para os traders? É outra história — a Fed vai ter de intervir, a liquidez vai aumentar e tudo o que tem de subir… vai mesmo subir.