Nos últimos tempos, cada semana no setor parece uma repetição — mais um lançamento de stablecoin, mais uma tentativa de redirecionar valor. Primeiro, acompanhamos a disputa pela emissão do USDH da Hyperliquid; depois, debatemos a tendência de verticalização para capturar rendimento sobre títulos do Tesouro dos EUA. Agora, surge o mUSD nativo da MetaMask. O que conecta todas essas estratégias? A distribuição.
A distribuição se tornou um verdadeiro atalho, não apenas no universo cripto, mas em vários segmentos, para construir modelos de negócios robustos. Se você já possui uma comunidade de milhões, por que não potencializá-la distribuindo um token diretamente? Mas nem sempre funciona. O Telegram tentou com o TON, mesmo contando com meio bilhão de usuários de mensagens, mas eles nunca migraram para o blockchain. O Facebook tentou com o Libra, acreditando que seus bilhões de contas dariam origem a uma nova moeda. Ambos pareciam imbatíveis na teoria, mas fracassaram na execução.
É por isso que o mUSD da MetaMask, com suas orelhas de raposa e o símbolo ‘$’ no topo, chamou minha atenção. À primeira vista, é mais uma stablecoin — lastreada por títulos do Tesouro dos EUA de curto prazo sob custódia regulada e emitida por um sistema desenvolvido pela Bridge.xyz com o protocolo M0.
Mas o que vai diferenciar o mUSD da MetaMask em um mercado de stablecoins de US$ 300 bilhões, hoje dominado por um duopólio?
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A MetaMask chega em um cenário disputado, mas traz um diferencial que nenhum concorrente pode igualar: distribuição. Com 100 milhões de usuários anuais globalmente, a MetaMask possui uma base que poucos conseguem alcançar. O mUSD estreia como a primeira stablecoin nativa em uma carteira self-custodial, permitindo compra com moeda fiduciária, swaps e até pagamentos em estabelecimentos via Cartão MetaMask. Não é mais necessário buscar por exchanges, fazer ponte entre redes ou lidar com tokens personalizados.
O Telegram não tinha esse alinhamento entre produto e perfil do usuário. A MetaMask tem. O Telegram queria migrar usuários de mensagens para blockchain e DeFi. A MetaMask, por sua vez, aprimora a experiência ao integrar a stablecoin nativa direto no app.
Os números comprovam a rápida adoção.
O market cap do mUSD da MetaMask saltou de US$ 25 milhões para US$ 65 milhões em menos de uma semana. Quase 90% está na Linea, a Layer 2 da ConsenSys, evidenciando como a interface da MetaMask direciona liquidez. Essa força é semelhante ao que exchanges fizeram: quando a Binance converteu depósitos em BUSD em 2022, a circulação disparou. Quem domina a tela, domina o token. Com mais de 30 milhões de usuários mensais ativos, a MetaMask tem mais alcance do que qualquer outro player da Web3.
Essa distribuição é o que distingue a MetaMask dos pioneiros que falharam ao buscar uma stablecoin sustentável.
O plano do Telegram ruiu, em parte, por questões regulatórias. A MetaMask blindou-se, aliando-se à Bridge (emissora ligada à Stripe) e garantindo cada token com títulos do Tesouro de curto prazo. Isso resolve o aspecto regulatório, e o novo GENIUS Act nos EUA já dá base jurídica desde o início. Liquidez é outro ponto-chave. A MetaMask está semeando o DeFi da Linea com pares mUSD, apostando que sua rede própria vai impulsionar a adoção.
Mas distribuição não é garantia de sucesso. O maior desafio da MetaMask está nos concorrentes já consolidados, especialmente em um mercado dominado por poucos gigantes.
Entre USDT da Tether e USDC da Circle, cerca de 85% de todos os stablecoins já estão sob controle. Em terceiro lugar, distante, está o USDe da Ethena, com US$ 14 bilhões em oferta, atraindo investidores pelo rendimento. O USDH da Hyperliquid acaba de chegar, desenhado para reinvestir depósitos de exchange no próprio ecossistema.
Volto à questão: Qual é o objetivo da MetaMask com o mUSD?
Ser um adversário direto de USDT e USDC parece improvável. Liquidez, listagem nas exchanges e hábitos dos usuários favorecem os líderes. Talvez o mUSD nem precise competir de frente. Assim como imaginei que o USDH da Hyperliquid fortaleceria seu ecossistema ao direcionar mais valor à sua comunidade, o mUSD tende a capturar mais valor dos usuários que já estão na MetaMask.
Leia: Minting Control 🏦
Cada vez que um novo usuário faz on-ramp via Transak, troca ETH pelo novo stablecoin na MetaMask ou utiliza o Cartão MetaMask numa loja, o mUSD será prioridade. Isso faz da stablecoin a escolha padrão dentro do ecossistema.
Lembro das vezes que precisei fazer bridge de USDC entre Ethereum, Solana, Arbitrum e Polygon, conforme a necessidade com stablecoins.
O mUSD elimina toda essa rotina de bridges e swaps.
Outro ponto relevante: o rendimento.
Com o mUSD, a MetaMask captura o rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA que lastreiam o token. Cada bilhão de dólares em circulação representa dezenas de milhões de dólares em juros anuais voltando para a ConsenSys. A carteira deixa de ser centro de custos e vira motor de receita.
Se US$ 1 bilhão em mUSD estiver lastreado por títulos equivalentes, pode render US$ 40 milhões em juros anuais. Para referência, a MetaMask arrecadou US$ 67 milhões em receitas no último ano com taxas.
Isso pode abrir mais uma fonte relevante de receita passiva para a MetaMask.
Por outro lado, há um aspecto que gera desconforto. Sempre enxerguei carteiras como ferramentas neutras de assinatura e envio. O mUSD desfoca essa linha, transformando o que era infraestrutura neutra em uma unidade de negócio lucrativa — que fatura sobre depósitos dos usuários.
A distribuição, assim, é vantagem e risco. Pode tornar o mUSD dominante por padrão, ou levantar dúvidas sobre viés e bloqueio. Se a MetaMask ajustar swaps para favorecer seu próprio token, seja por preço ou prioridade, pode tornar o universo das finanças abertas menos acessível.
Outro desafio é a fragmentação.
Se cada carteira descentralizada criar seu próprio dólar, o mercado pode virar um mosaico de moedas exclusivas, em vez do duopólio USDT/USDC atualmente intercambiável.
O futuro é incerto. A MetaMask acerta ao fechar o ciclo financeiro de compra, investimento e gasto do mUSD via integração com o cartão. A expansão na primeira semana mostra potencial para superar as barreiras iniciais. Por outro lado, o domínio dos gigantes revela o quanto é difícil migrar de milhões para bilhões.
Talvez o destino do mUSD da MetaMask esteja exatamente entre essas duas realidades.
Por hoje, finalizo este mergulho profundo da semana.
Nos vemos na próxima edição.
Até lá… mantenha-se curioso,
Prathik
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